PENSAMENTO DO DIA


SUCESSO é NÃO QUERER FAZER e TER que FAZER!
SUCESSO é FAZER ALGO no DIA e na HORA em que VOCÊ MENOS GOSTARIA de FAZER.

(Marco Aurélio F. Viana).


domingo, 13 de maio de 2012

MINHA CRIANÇA






Peço licença para falar na minha criança, a que mora aqui dentro e não me abandonará jamais. 
Talvez com a morte eu até regresse a ela. 
Os quase setenta anos que dela me separam não a removem. 
Ela ali está, magra e tímida, a me olhar e ditar comportamentos e reações.

Minha criança esteve em todos os meus filhos e aparece no meus sete netos. 
Ela se refaz da morte da irmã e abre os olhos para o mundo, com a certeza de que veio ao mundo para alguma missão, embora sempre se considere inferior ao tamanho da mesma.

Minha criança sente enorme saudade de pai e da mãe com quem o adulto já não conta salvo no exemplo, na saudade e nas orações quando me domina uma fugidia sensação de estarem, incorpóreos, a meu lado, mas sem se manifestarem.

Minha criança possui incomensuráveis solidões diante do mistério do infinito. 
Ainda recua diante do violento, embora não o tema, e ainda se infiltra em episódios de distração e inocência inexplicáveis num homem com minha carga de vivências. 
Minha criança ainda gosta de abraço caloroso, proteções misteriosas e de um modo de rezar que o adulto nunca mais conseguiu tais a entrega e a total confiança no mistério e na proteção de Deus.

Minha criança carrega o melhor de mim, é portadora de meu modo triste de falar de coisas alegres e de algum susto misterioso sempre que se lhe impõe alguma expectativa d enfermidade. 
Minha criança é inteira, mansa, bondosa e linda. 
Eu a amo, preservo, e dou boas gargalhadas quando a vejo infiltrar-se nas graves decisões de algumas de minhas responsabilidades adultas. 
Ninguém a vê, salvo eu. 
Ninguém a acaricia, salvo eu, que a estimo, procuro e admiro mais a cada dia e com quem converso histórias infinitas, que somente a imaginação pode conceber no universo maravilhoso da fabulação interior e solitária.

Diariamente passeio com minha criança e estou muito feliz por cumprimentá-la, levar-lhe balas, nuvens, aquele cão da meninice, as canções de minha mãe e os carinhos de meu pai, levar-lhe os presentes que ganhava de meu padrinho e toda a enorme vontade de Ser que então adivinhava para a minha Vida. 
Vida que chegou, ameaça passar, e da qual não me arrependo. 

Minha criança adivinhou em seus sonhos o (a) adulto (a) que eu queria ser. 
E traz alegria e esperanças à minha idade atual. 
Hoje sou, há muito tempo, o (a) adulto (a) que sonhei ser. 
Talvez com menos tensões, mas igualzinho em meu modo de amar a Vida.







(Artur da Távola).

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